Como usar cartão de crédito
- Daniel Meinberg
- 5 de jun. de 2010
- 4 min de leitura
(publicado originalmente em http://blogdodaniel.xpg.uol.com.br/0071.html)
Boa noite, pessoal.
É comum vermos pessoas condenando os cartões de crédito como os grandes vilões de suas enrascadas financeiras. Sem dúvidas, um cartão de crédito mal utilizado pode provocar tragédias orçamentárias. No entanto, em geral quem está em tal situação é porque desconhece (ou desconsidera) princípios elementares de educação financeira. Hoje vou tentar ajudar a entender como um cartão de crédito deve ser usado.
Certa vez ouvi uma frase muito sábia, mas que infelizmente vou ficar devendo o crédito ao autor por não lembrar quem foi. A frase dizia mais ou menos o seguinte: cartão de crédito é uma ótima ferramenta para comprar coisas que você não precisa com dinheiro que você não tem. Gente, esta frase pode soar engraçada para alguns, mas sintetiza de maneira brilhante a mentalidade da maior parte dos brasileiros que possuem e usam cartões de crédito. E a partir dela podemos compreender porque o cartão de crédito desgraça a vida de tantas pessoas e famílias.
O cartão de crédito foi uma brilhante invenção para substituir o dinheiro no momento das compras. Como benefícios adicionais, ele te dá descontos (em alguns casos), milhagens ou outros benefícios similares, e até um prazo para pagar o valor. E o primeiro prazo dado (até a chegada da primeira fatura subsequente) não há qualquer correção do montante. No entanto, caso a fatura não seja paga integralmente, os juros cobrados são absurdos. Tão altos que, em um mês, você paga de juros mais do que qualquer aplicação tradicional de renda fixa disponível nas instituições financeiras te pagariam em um ano pelo mesmo valor aplicado!
Agindo de forma planejada, consumindo de forma adequada, o cartão de crédito pode ser um excelente aliado. Por exemplo, sei de uma pessoa que só utiliza seu cartão de crédito para abastecer o carro. Como ele utiliza em um posto que, na localidade dele, consegue praticar preços muito baixos aceitando cartão, ele não conseguiria melhor valor se pagasse à vista. Sendo assim, ele compra com o cartão enquanto o dinheiro para pagar a fatura permanece aplicado. Ou seja, ele consegue um “desconto” de aproximadamente 0,6% do valor devido em razão da remuneração da aplicação financeira no período. Excelente! Isto é uma demonstração de como o cartão de crédito pode ser seu aliado: além de concentrar os gastos com combustível em apenas um local (o que facilita o controle), não precisa circular com dinheiro vivo e ainda consegue desconto.
Utilizar o cartão da forma acima para compras essenciais é o ideal. Quem consegue isso encontra no cartão um grande parceiro. Combustível, compras cotidianas em supermercados e assemelhados passam a ter maior controle, menor necessidade de andar com dinheiro em espécie, consegue o desconto indireto (fruto da aplicação financeira), e ainda conta com os benefícios oferecidos pelo seu cartão de crédito (milhagens, por exemplo) que, em alguns casos, chega a ser desconto em dinheiro mesmo, um percentual do valor da fatura.
O grande problema do cartão de crédito é relacionado à falta de planejamento e educação financeira associada à disponibilidade imediata de um recurso que você nem sempre tem. Ele permite consumir imediatamente, e depois ver como fazer para pagar, o que costuma ser a fonte dos problemas.
Pessoas que usam o cartão para aproveitar promoções são grandes candidatas a se enrolarem. As promoções não são obras do acaso: são estratégias de marketing extremamente bem elaboradas por profissionais especializados, muitas vezes lançando mão de componentes emocionais, para fisgar o trouxa, digo, cliente que inadvertidamente compra algo que nem precisa, só porque está barato. Você conhece alguém que já tenha caído nesta armadilha? Eu não conheço ninguém que NÃO tenha caído. Convenhamos: os caras são bons no que fazem! Se você não consegue se controlar, “esqueça” em casa o cartão de crédito e o talão de cheques quando for sair.
Bom, a pessoa caiu na armadilha, comprou, e agora? Agora é óbvio: tem que pagar. E a fatura chega em casa, bonitinha, dias depois. Não é raro ver pessoas se arrependendo da compra feita neste momento, ou tempos depois. Porque é a partir deste momento que a maioria das pessoas percebe o quanto custou aquela promoção irresistível! É o momento que a pessoa percebe que o cartão de crédito não é extensão do salário dele, e que pagar a fatura vai consumir parte de sua renda.
Se a pessoa conseguir pagar a fatura integralmente, menos mal. Se aprender com isso a lição, maravilha! O problema é quando não consegue pagar todo o valor, e paga algo acima do mínimo (quando não o mínimo!). O valor que não foi pago será corrigido para a próxima fatura por um percentual que atualmente é superior a 10%. Gente, 10% ao mês é muita coisa! Caderneta de poupança paga TR + 6% AO ANO. O seu FGTS é corrigido também pela TR + 3% AO ANO! Ao ano, e não ao mês, como os mais de 10% do cartão de crédito. Se a pessoa não conseguir pagar integralmente, ela passa a ser ameaçada por uma traiçoeira espiral de endividamento. Se fossem “apenas” 10% ao mês, uma dívida que hoje seria de R$ 1.000,00 será de R$ 1.100,00 no mês que vem, R$ 1.210,00 no segundo mês, R$ 1.331,00 no terceiro mês e, no quarto mês, já precisará de R$ 1.464,10 para quitar a dívida que inicialmente era de R$ 1.000,00. R$ 464,10 a mais por esperar 4 meses. No mesmo período, R$ 1.000,00 aplicados na caderneta de poupança deverão ter se transformado em algo em torno de R$ 1.020,00, ou seja, uns R$ 20,00 a mais. Esta estratégia de não pagar o valor integral da fatura é, portanto, extremamente danosa à sua saúde financeira.
Se você está nesta situação, ou conhece alguém que esteja passando por isso, minha sugestão é que a pessoa vá ao banco, negocie uma linha de crédito mais barata no valor exatamente suficiente para quitar a próxima fatura, pague o empréstimo negociado com o banco sem atrasos (se possível, negocie antecipação de parcelas futuras, desde que obtenha desconto proporcional) e que NUNCA MAIS faça esta bobagem.
Não sei se entenderam, então vou repetir: NUNCA MAIS entre em crédito rotativo de cartão de crédito. De novo: NUNCA MAIS. Entenderam? Se não sabem o que significa “nunca mais”, procure um professor de língua portuguesa, ou um dicionário, porque “nunca mais” é uma coisa que dura para o resto da vida, e não só até a próxima ida ao shopping. E eduquem-se para resistir às compras por impulso. Seu bolso vai te agradecer, e retribuir. Sua saúde mental também.
Abraços, bom fim de semana a todos.
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